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  • Foto do escritorArthur Gadelha

O ridículo em ‘Triângulo da Tristeza’ testa o limite de Ruben Östlund

CRÍTICA Controverso vencedor da Palma de Ouro no 75º Festival de Cannes surpreendeu ao emplacar três grandes indicações ao Oscar: Filme, Direção e Roteiro Original.

É difícil classificar a bobagem do Ruben Östlund, cineasta sueco badalado nos festivais com histórias que traçam a sátira longe de pretensas análises sociais e se aproximando da zoação, sempre tola, óbvia e cíclica. Para quem se convence com essa sua forma de rir do mundo, a jornada se vale justamente por seus projetos nunca demandarem qualquer intenção para além do que é raso à todos os personagens e circunstâncias. Enquanto Força Maior (2014) parece esbanjar um humor mais íntimo ao rir da fragilidade masculina, The Square (2017) já coloca seu autor num estado de "observador da sociedade", mas sem nunca tomar para si qualquer compromisso que ultrapasse a brincadeira. Como alguém convencido por esses dois últimos pela frontalidade da comédia, saio de Triângulo da Tristeza (2023) um pouco entediado.


"Não é possível que estejamos há meia hora nesse mesmo papo", sussurrei para minha amiga ao lado ao perceber que o primeiro ato do filme não se desprendia de uma conversa que dava voltas e voltas sobre o papel social dos gêneros dentro da hierarquia de influência financeira. Para minha surpresa, aquela já era a melhor sequência do filme, especialmente pela performance acanhada mas bem desenhada do casal: Harris Dickinson e Charlbi Dean, na pele de modelos que "ganham mais coisas de graça do que dinheiro", guiam seus personagens de forma pouco óbvia, sem nos deixar saber se estão acostumados àquela situação ou se irão explodir no segundo seguinte.


Ao colocar milionários (os de fato e os de aparência) num mesmo barco com uma tripulação treinada para nunca negá-los nada, já está claro que Ruben quer fazer uma espécie de Parasita escrachado, sujo, duro e sem uma gota de afeto. Seus personagens são como os bonecos em CGI da Marvel que saltam sem perigo porque nenhum deles importa, de fato, mas apenas suas tediosas "representações". Sensações como a ganância, a alienação e a visão desleal de existências alheias, são construídas sem o menor cuidado na intenção de que moldem a estrutura do mundo real.



O cinema do Ruben, porém, até naqueles em que ele acerta em cheio, está nada preocupado com o cuidado, com a sutileza e nem mesmo com a mera metáfora. Acho que sua graça está nisso que o destrata, em assumir o contraditório vazio das coisas e das pessoas que decide filmar, fazendo com que a superficialidade seja um elemento louvável. Por outro lado, também é evidente que esse esquema lhe imponha um grande risco de exagero e certo cinismo incontornável.


Esse filme, mesmo atendendo a todos os requisitos que tornaram seu autor famoso (e compreensivelmente desprezado por grande parte da crítica) passa do ponto. Acho ótimo que absolutamente todos os planos e diálogos estejam, a cada segundo, sendo apresentados como uma grande zoação, sem benefício da dúvida, sem empatia ou qualquer outro sentimento de relativização, mas o ritmo de tensão, surpresa e expectativa esfria a irreverência.


Enquanto a segunda parte do iate se entope de constatações repetidas, somando-se a emblemática sequência da sujeira que nos lembra a incômoda do macaco em The Square, a parte final esparsa tanto a discussão que aqueles personagens se tornam ainda mais figurativos. Com exceção da graça de Dolly de Leon na imposição de Abigail, chefe das camareiras no iate que assume uma reviravolta de ordem, nada e nem ninguém parece fazer o ato final valer a pena para além de uma piada já feita no começo.


Triangulo da Tristeza é provavelmente o filme mais idiota que eu já assisti numa sala de cinema - isso, provavelmente, também é um elogio, pois as risadas foram inevitáveis diante de tanto caos. Ora, Ruben já recebeu uma Palma de Ouro aos saltos e gritos no pomposo Palais des Festivals. É óbvia a sua devoção a bobagem, a tolice, a mera brincadeira - assim como também é óbvio que exista indignação que para isso se dê tanta moral.

 
 

Direção e Roteiro: Ruben Östlund

Fotografia: Fredrik Wenzel

Produção Artística: Josefin Åsberg

Figurino: Sofie Krunegård

Maquiagem e Cabelo: Stefanie Gredig

Som: Jonas Rudels, Jacob Ilgner

Design de Som: Andreas Franck, Bent Holm

Montagem: Ruben Östlund, Mikel Cee Karlsson

País: Suécia, França, EUA

Título Original: Triangle of Sadness

Ano: 2022

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