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Fugindo do susto, ‘MAYHEM’ transforma Lady Gaga num monstro apaixonado

Foto do escritor: Arthur GadelhaArthur Gadelha

Imprevisivelmente comportado e divertido, o álbum deixa de lado as cicatrizes da fama e resolve tudo na pista de dança

Diante da densidade de ‘Disease’ e do barulho nostálgico de ‘Abracadabra’, singles que apresentaram seu sétimo álbum de estúdio aos fãs sedentos por uma Lady Gaga agressiva já adormecida há mais de 10 anos, dificilmente alguém poderia imaginar que ‘MAYHEM’ seria um álbum tão extrovertido e aconchegante. Criando certa ironia comum aos seus gestos imprevisíveis, Gaga recria a síntese do seu álbum de estreia, The Fame (2008), mas agora sob a roupagem de uma artista que amadureceu o suficiente para não ser mais refém da sua própria caricatura.


Quase 20 anos depois, a artista reúne suas principais referências e inspirações da música pop parar construir uma resposta à altura do que ela ainda tem a dizer sobre seu grande conflito: Stefani versus Gaga, duelo fantasiosamente cruel que rendeu canções grandiosas como ‘Bad Romance’, ‘Marry The Night’, ‘Aura’ e ‘Replay’. Feita às pazes com seu “monstro da fama”, Gaga constrói o ‘Mayhem’ sem qualquer angústia e com o mesmo distanciamento que ela tinha quando criou essa persona em 2008. Agora, com um agravante incontornável: ela está apaixonada.


Quando ultrapassa a quadra elétrica da abertura – com ‘Garden of Eden’ e ‘Perfect Celebrity’ –, o álbum mergulha numa vital declaração de amor tanto pela existência ativa e artística de seu noivo, Michael Polansky, também compositor e produtor do álbum, quanto pela sua liberdade criativa. De canções mais amorosas, de fato, como a ‘Vanish Into You’, ‘LoveDrug’, ‘How Bad Do U Want Me’, ‘The Beast’, ‘Blade of Grass’ e a meteórica ‘Die With a Smile’, às mais brincalhonas, ‘Zombieboy’ e ‘Killah’. Frases como “Você gosta da garota má que eu tenho em mim” ou “Quando eu morrer, poderei desaparecer em você?”, causam essa emoção sincera.


Na prática, isso acaba dando um desfecho monótono à narrativa do álbum, especialmente porque três canções calmas vêm depois da explosão elétrica de ‘Shadow of a Man’ – a melhor da lista numa reencarnação de Michael Jackson –, e torna esse dito “caos” em algo repetitivo. Se encerrasse em ‘The Beast’ isso já estaria evidente, com uma frase tão erótica quanto discreta: “Ligue a música e apague as luzes. Eu quero sentir a fera interior”.


Por outro lado, ‘MAYHEM’ tem um lado muito divertido que é impossível de esquecer – e que continua tão apaixonado quanto. Frases como “Eu poderia ser sua namorada no fim de semana”, “Eu poderia ser seu tipo pela sua mordida de zumbi”, “Eu sou um assassino e, garoto, você vai morrer esta noite” chegam implorando seu corpo para se mexer, involuntariamente, nem que um mero estalar de dedos ou um bater de pé. Foi isso que ‘The Fame’ fez em 2008 e é isso que ‘MAYHEM’ faz em 2025.


No fim das contas, mesmo misturado com sons tão diferentes, de sintetizadores a guitarras elétricas, a jornada é desenhada de tal forma para deixa exposta a versatilidade num tempo ainda tão limitador para as artistas pop. Afinal, começar com a batida quase agressora de ‘Disease’ e terminar com o romance meloso de ‘Die With a Smile’ não é algo que alguém escolheria fazer – e ela o faz, abrindo com uma doença dilacerante e fechando com um amor no fim do mundo. Lady Gaga é mesmo tudo isso.

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