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  • Foto do escritorArthur Gadelha

"O Mal Que Nos Habita" impressiona na crise entre superstição e realidade

★★★☆☆ Terror argentino mira na construção de um mundo que enfrenta seu mal coletivo


"Deus morreu", revela uma personagem em dado momento de sua fuga para nos contextualizar sobre a própria realidade. Nesse mundo do terror argentino "O Mal Que Nos Habita", a existência do mal é uma sobrenaturaldiade que arranha a fronteira das convenções sociais sobre o que faz parte deste mundo, de fato. Quando surge um "possuído" não se chama mais o padre, mas a polícia - não se pode atirar ou simplesmente matá-lo, há protocolos para conter a violência sobre o que está ao redor.


Apesar de um engasgo constante na composição dessa realidade, seja nas atuações, na direção e na própria montagem, elementos que por vezes tropeçam em lugares-comuns com pouca imersão, é admirável nesse filme sua vontade voraz de criar algo "novo", de construir um universo próprio e de nos fazer caminhar por imaginações assustadoras.


A trajetória embrionária do Mal, como entidade inominável, é intrigante - a começar pela crise gerada entre supestição e crença que leva seus personagens à um percepção desnorteada sobre sua gravidade e pretensão. Por que este mal está lá? O quanto do mal que já está dentro de cada um o atrai?


Se há cenas muito frágeis na condução conjunta de horror e adrenalina, como no confronto de Pedro e Sabrina, há outras recheadas de tensões envolventes. A sequência da escola é muito boa porque nos alimenta de sensações distantes do atual senso-comum de Hollywood: o silêncio, a falta de pressa, além de um acontecimento narrativa e imageticamente hipnotizante que reúne crueldade e inocência, um nascimento inesquecível. O descontrole de ritmo e urgência do filme é tão notável que ele não percebe que poderia acabar exatamente ali, no olhar inesperadamente afetuoso sobre a existência de um outro mundo, de um "outro mal", mas ele só decide se estender para dar respostas de perguntas que naquele ponto nem importavam mais.


De toda forma, "O Mal Que Nos Habita" é um filme fascinante porque entrega um conceito muito próprio desse esquema já exaustivo do "humano que enfrenta seu fim" em tramas demoniácas ou apocalípticas, especialmente quando reconhece que o impulso - o tiro, o grito e o susto - só nos distancia ainda mais de entender o que significa seu pavor.

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