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  • Foto do escritorArthur Gadelha

"Mainstream" se contenta com o talvez do próprio discurso

CRÍTICA Há o que dizer sobre a falsidade digital sem ser falso?


Honestamente, acho brilhante a "categoria" de filmes bobos que correm o risco constante de serem apenas ridiculamente tolos - isso porque são filmes que estão dispostos à encarar um mundo já estabelecido de quais são as transgressões "permitidas" em narrativas de humor, drama, terror, etc. Como aquela loucura do Daniel Radcliffe como um cadáver flatulento em Swiss Army Man (2016) ou as desventuras hollywoodianas do brilhantemente surtado Under the Silver Lake (2018), ou até mesmo os filmes descontrolados da franquia Todo Mundo em Pânico.


Mas correr o risco não é usá-lo como ferramenta de blindagem às percepções desinteressadas, é justamente estar ciente de que seu filme pode tanto fazer todo sentido, como pode ser forçadamente esquecido logo após o fim da sessão. O que acontece nesses citados acima é que a bobeira é incorporada na narrativa sem que seja preciso pensar nas contradições. Esse Mainstream (2021), pensando nas contradições, chega em mim como as obras pertencentes aos casos falhos.


Na trama, Link (Andrew Garfield) é um transeunte anônimo que fica famoso da noite para o dia após um projeto concebido por Frankie (Maya Hawke) e Jake (Nat Wolff), pessoas cansadas dessa vida urbana cujo trabalho é um fardo incontornável. A partir dessa virada, os três partem rumo a experiência de ganhar dinheiro produzindo um personagem louco e ciente do mundo falso, só que justamente no palco mais falso do mundo: as redes sociais digitais. Uma loucura que engatilha bem.



Sua intenção de "refletir" o absurdo digital (das audiências instáveis aos discursos de imagem e poder), no entanto, vai soando cada vez mais óbvia e essa insensibilidade acaba por prejudicar o que parece ser uma tentativa de ser eloquente, esvaziando o próprio conteúdo de forma didática. Caímos num ciclo interminável, retroalimentado por um roteiro cafona. Claro que Andrew encaixa muito bem na ideia porque o caos é essa proposta que, de fato, precisava fazer parte da composição independentemente de ser bem desenvolvido ou aceito. Para correr o risco, ceder ao caos!


O incômodo principal é que as ideias são grosseiras, como a própria jornada de ascensão e queda no mundo virtual do No One Special. Para ter uma narrativa abertamente sarcástica, Copolla parece se orgulhar de uma observação que é reducionista pela mera exploração do caricato, como se isso valesse por si só. Tem suas peculiaridades corajosas, óbvio, e acredito que é por aí que quem curtiu essa viagem começará para defendê-lo: a necessária afirmação do maniqueísmo, a terra sem lei que constrói "debates públicos" do nada. Essa desordem é como conviver com a contradição (da mídia) de criticar o discurso enquanto o é... Pode ser que tenha um bom filme aí. E, honestamente, até o fato de eu não ter suportado esse filme compõe o motivo do seu orgulho em ser desse jeito tão brutal - e ridiculamente tolo.

 

½

Direção: Gia Copolla

País: EUA

Ano: 2021


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