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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Almodóvar parodia sua própria paixão em ‘Estranha Forma de Vida’

★☆☆☆☆ | Estrelado por Ethan Hawke e Pedro Pascal, novo média-metragem do aclamado Pedro Almodóvar não passa de uma caricatura agridoce


Quando Manu Rios, astro teen gay da Netflix, surge na introdução do filme dublando uma canção entoada por Caetano Veloso, com direito a closes dramáticos que chegam a lhe cortar a cabeça enquanto nos aproximamos de seus lábios sedutores, já é possível desconfiar de que algo ali não está em ordem natural de seu autor. Seria apenas uma caricatura?


A pergunta ressoa, principalmente, por toda a atenção que Pedro Almodóvar deu ao fato de que essa história seria sua “resposta” a Brokeback Mountain (2005), filme de Ang Lee que se tornou uma das maiores referências gays desse século ao contracenar os galãs Jake Gyllenhaal e Heath Ledger como dois cowboys que inesperadamente – inevitavelmente – se apaixonam.


‘Estranha Forma de Vida’ é, portanto, apenas um recado de que o diretor espanhol não se importa com a relevância dada a essa narrativa penosa? É uma resposta que custa a fazer sentido, especialmente porque o casal de Hawke e Pascal não parece se beneficiar de qualquer gravidade que ficou marcada na filmografia do Almodóvar. Olhando apenas para Antonio Banderas, por exemplo, conseguimos traçá-lo do ardente em A Lei do Desejo (1987) ao carente de Dor e Glória (2019) com visceralidade e impulsos constantes.


Aqui não há qualquer centelha ou faísca, e o próprio filme aceita isso pulando as cenas íntimas e fazendo desta uma história apressada e sem substância. Não é possível acreditar que exista algum sentimento real entre os dois, até o momento em que confrontam suas percepções do passado, e finalmente, Hawke e Pascal conseguem criar uma materialidade interessante, mesmo que tão mínima e passageira.


É tudo tão sem saída, que sobra ao roteiro inventar um flashback ensosso para construir algo que deveria emocionar no presente, especialmente diante da intriga policialesca que invade a trama para laçar seu desfecho. A duração de 30 minutos só confirma a falta de interesse em tornar essa história palpável, envolvente, o que me deixou na rendida interpretação de que essa história não deixa de ser uma grande – e cara – ironia.

 


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