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Foto do escritorArthur Gadelha

Novo ‘Evil Dead’ entra nas reprogramações urbanas do horror

CRÍTICA Novamente vendido como um terror insuperável, ‘A Morte do Demônio: A Ascensão’ sabe divertir os que conhecem Evil Dead e os que nunca ouviram falar

Ao assistir a esta espécie de Evil Dead 5 saí da sala com uma sensação bem semelhante à reação de Pânico 6, pensando que esses títulos são bons exemplos de como encarar uma sequência de filmes no impulso da manutenção, no rumo de um “conserto” injusto para uma audiência que agora é outra. Mesmo atendendo a referências de cenas, espaços e personagens para seus fãs, são filmes que buscam sintonizar seus próprios “lugares-comuns” para agradar dois lados.


Sou pouco aprofundado na larga história do cinema dos EUA e fiquei curioso para entender o quanto esse ciclo atende a uma demanda de reciclagem contemporânea e o quanto é, em si, também um reprocesso do passado. Acho que são bons filmes, especialmente por entenderem a engrenagem e terem interesse pelos elementos “novos” na cultura interna de seu legado. Ambos buscam a cidade grande, com prédios, ruas e becos escuros, como contraponto ao isolamento espaçoso do interior que deu origem aos seus terrores, como se figurasse uma ancestralidade demoníaca sobrevivendo ao tempo. É curioso, funciona e prende a atenção - me lembra o salto que Invocação do Mal 2 dá ao esquecer as casas assombradas ilhadas no mato.


Esse novo capítulo de Evil Dead surpreende ao tentar assimilar as referências de seu trash original aos moldes dos terrores desse tempo, mesmo correndo o risco de perder personalidade. Se são interessantes momentos como quando a câmera percorre as ruas pavimentadas para repetir o salto do demônio pelos galhos, ou quando um terremoto abre uma cratera no chão de cimento, o filme também se contenta com muita estética de filmes de terror entre quatro paredes. O roteiro é meio que qualquer coisa até no sentimentalismo que busca construir em torno da maternidade, mas o que mantém mesmo a atenção é o elenco e como se comportam com a transformação de seus personagens. Morgan Davies é o primeiro a nos sugar diante de sua invocação acidental, construindo temor e reação na sua assimilação de culpa. Essa dubiedade de sentimentos só vai se repetir com Alyssa Sutherland, a mãe, que nos convence na resistência e no abandono de si para a força demoníaca. "Está dentro de mim", ela revela num pequeno salto em que retoma poder sobre a mente.


Morgan Davies em cena

Se, contraditoriamente, o filme vai se acomodando em sua própria lógica de “expansão” do demônio pelos outros, surpreende que ao fim ele se lembre de onde veio. A construção do monstro, que vem seguida da narração do padre diante das duas tentativas de expurgá-lo, é uma digna revitalização do projeto. A coisa espiritual vai se transformando em algo físico, carnal, o que me lembra imediatamente as sensações de Maligno (2021), do James Wan. O que se segue não tem tanto suspense e tensão, mas serve bem como um desfecho.


Gestos como esse, de uma evidente restauração que não tenta substituir o original, indicam o óbvio destino de novas continuações, dessa vez com novos “pontos-base”. Honestamente, como alguém que também não é propriamente fã do cinema de horror, não sei o quanto vale a pena esticar-se sobre essas dívidas no lugar de construir novos pontos de virada, por mais difícil que seja se arriscar para além de todas as seguranças que projetos como esse oferecem. Como definitivamente não tem ninguém com pressa, vamos ver no que isso vai dar. Pode ser pra sempre. Pode acabar amanhã.

 
 

Direção e Roteiro: Lee Cronin

Produção: Rob Tapert, Sam Raimi

Fotografia: Dave Garbett

Trilha Sonora: Stephen McKeon

Montagem: Bryan Shaw

País de Origem: EUA

Título Original: Evil Dead Rise

Ano: 2023

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