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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Cine Ceará: na periferia cearense, um Brasil que procura seu futuro

CRÍTICA Produzidos em bairros distantes entre si, "Aquele Que Veio do Oeste" e "Pedro" questionam o futuro

"Aquele Que Veio do Oeste", de Wesjley Maria

"Esse filme usa a ficção para construir um futuro, mesmo sabendo que usam da mentira para manipular o presente" - é sob o som de Mateus Fazeno Rock que surge essa declaração bastante direta na abertura de Aquele Que Veio do Oeste, filme de Wesjley Maria que integra a seleção de curtas da Mostra Olhar do Ceará deste ano. Na trama, Beatriz volta a Fortaleza para vender uma casa antiga em que morava, e então se depara com uma notícia rodando no bairro sobre supostos monstros marinhos que surgiram. Ela não se abala, propriamente, apesar de querer desvendar o mistério.


"Serviu só pra expulsar os banhistas da praia... Tu lembra que era cheio, né?", responde um dos amigos quando ela os pergunta sobre a suspeita. Não há provas, mas há crença. Mesmo que siga o fluxo da Beira-mar, área "nobre" de Fortaleza recheada de prédios caríssimos e com manutenção urbana redobrada, a região da Vila do Mar, na Barra do Ceará, é como um contraponto institucional da atenção estabelecida pelo poder público.


Do outro lado da cidade, Jangurussu surge em Pedro, filme de Leo Silva, como um bairro ilhado pela própria cidade e por suas negligências ativas. Enquanto o filho se arruma para a escola, a mãe assiste a uma reportagem relatar o fim da única quadra de futebol da comunidade porque, instalada num terreno privado, precisou deixar de existir por decisão de seu proprietário. “O único lugar que a gente pode ter lazer é aí, nesse campo”, conta uma garota ao repórter.


Ou seja, diante desses discursos - no de Wesjley mais subjetivo -, esses filmes têm muitas ideias para articular, especialmente no que diz respeito aos seus próprios futuros. Se no primeiro há uma revelação afirmativa sobre o afeto, no segundo a desordem ainda permanece como caos fabricado pela ausência. Preparando seu subtexto com símbolos e práticas (o pôster de Matrix projetando certa libertação, a educação sociológica, a brincadeira de polícia e ladrão), Pedro nos abandona no momento mais crítico de sua "descoberta", mantendo essas contradições todas vivas por dentro - volta a imagem de um pé que pisa na bandeira suja que está largada no canto da rua.

"Pedro", de Léo Silva

Com um trabalho atento de direção e montagem que sabe alternar os ritmos das cenas enquanto elas acontecem, Pedro brilha também no que precede a ausência, na observação envolvente da rotina daqueles espaços - da casa, da escola, da rua, ambientes que se cruzam nessa experiência de cidade. Curiosamente, essas imagens me levam ao seu filme anterior onde a pandemia os comprimiu a um só: Rotina Familiar – Crônica Visual (2020), produzido na mesma comunidade Santa Filomena.


Aquele Que Veio do Oeste, certamente, é um filme de construção mais limitada porque demanda muito de atuação e encenação, elementos pouco fluidos quando a história exige mais pulso - o conflito da venda da casa, por exemplo, parece ter chegado na tela com menos intensidade do que o ato, em si, projeta para a personagem: o retorno, a confirmação, a esperança. Ainda assim, é um obra recheada de sentimentos, como na cena do breve reencontro, na descoberta das fotos sob o quadro da avó, na luz de fim de tarde que leva memórias ao rosto da Beatriz, e até mesmo no espaço que encontra para encaixar humor. Mesmo que não impressione, é perceptível que há grandes realizadores aqui - além da inventiva realidade-fantasia de Wesjley, a fotografia de Sunny Maia que está sempre encarando esses espaços com um olhar de carinho. Como alunos da prolífica Vila das Artes, não podemos esperar menos para o futuro que este mesmo filme quer construir.

 

Aquele Que Veio do Oeste


Pedro

 

Esse texto faz parte da Cobertura do 32º Cine Ceará


Aquele Que Veio do Oeste

Direção: Wesjley Maria

Produção: Caroline Sousa, Wesjley Maria, Durango Office

Roteiro: Wesjley Maria

Fotografia: Sunny Maia

Direção de Arte: Matheus Dias

Montagem: Lucas Santos

Música Original: D.K7

Som Direto: Briar

Música original: D.K7

Finalização de Som: D.K7


Pedro

Direção: Leo Silva

Produção: Vitória Helen

Roteiro: Leo Silva

Fotografia: Arthur Rodrigues, Thiago Campos e Késsia Nascimento

Direção de Arte: Rebeca Eloi

Montagem: Gabi Trindade

Música Original: Relato Ativo - Minha quebrada em forma de rap

Som Direto: Mike Dutra

Finalização de Som: Mike Dutra

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