Arthur Gadelha
Cannes 2019: A estreia de Mati Diop, primeira cineasta negra em 72 anos de Festival
O filme "Atlantique" estreou na última quinta-feira, 16
Aos 36 anos, a cineasta franco-senegalesa Mati Diop chega em Cannes elevando imediatamente o próprio legado. Seu filme Atlantique é o primeiro em seleção oficial do Festival dirigido por uma mulher negra, e curiosamente é também sua estreia na direção de longa-metragem. Mati construiu sua carreira na atuação, estreando em 2008 em 35 Doses de Rum, da consagrada Claire Denis, atuando na década seguinte em mais de 17 filmes também como diretora, fotógrafa, roteirista e figurinista.
Sangue de família, Mati é sobrinha de Djibril Diop Mambéty, um dos mais expressivos representantes do Cinema Africano que começou sua carreira em plena efervescência de um novo cinema pelo mundo, pela década de 60 com as diversas vanguardas que caminharam entre Japão, França, Brasil, Hollywood... Em 2019, em meio à permanência de velhos dramas e advento de novos conflitos sociais pelo mundo, Mati Diop apresenta em Cannes uma "história de amor". Mas por trás da história de Ada, apaixonada por um operário que deixa o país enquanto se vê prometida a outro homem, está a emigração na esperança de um novo contexto social e, inesperadamente, um tom surrealista.
Após a sessão, que aconteceu na última quinta-feira, 16, as reações foram mistas. Embora pontuando os impasses narrativos, a crítica classificou o novo trabalho de Mati Diop como corajoso pela efusão de gêneros que evoca numa história de condição política do mundo "real", algo que lembra o aparente objetivo de Bacurau. Confira algumas reações abaixo:
"Seu amor se foi ao mar e quando foi, já estava morto. E é fantasmagórico contemplar o oceano sem pensar em todos os jovens que se foram e ali desapareceram. E é por essas frestas de película que você vê o quão belo e poderoso Atlantique é: Simplesmente o mar numa (pro)fusão de corpos e lutas."
"Atlantique assume a forma de uma estonteante história de fantasmas senegalesa em que todos são assombrados pelo desejo de escapar."
"Mati Diop passa rapidamente pelo romance juvenil, flerta com o policialesco até cair desajeitadamente no horror. Um horror que deseja ser ao mesmo tempo uma história de amor e um protesto político."
"Atlantique pode não ser perfeito, mas eu admiro a maneira como Diop não se submeteu ao modo realista esperado desse tipo de material, e também não entrou em um modo realista-realista clichê, nem tornou a história romântica a óbvia do filme. Centro. Seu filme tem um mistério sedutor."
"Mati Diop defende, ao mesmo tempo, um apelo poético, político e onírico para não se render às tragédias da emigração ilegal nos países africanos."
"A beleza ainda se encontra em momentos esporádicos, e a concisão narrativa funciona em certas passagens, porém o drama investe em caminhos tão inesperados quanto incompatíveis entre si."
"O fato é através de um redemoinho de gêneros muito rapidamente indefiníveis: investigação policial, melodrama, crônica, fábula política, ou até mesmo história de fantasia que mistura epidemia misteriosa e fantasmas."
"Em qualquer caso, há criatividade, sensibilidade e talento suficientes em Mati Diop for Atlantique para encontrar várias passagens fascinantes e, acima de tudo, esperar filmes que sejam ainda mais convincentes do que no futuro próximo."
Foto de capa: Christophe Simon / AFP
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