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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Cannes 2017: Werner Herzog e os tempos de Brasil em Cannes

Em homenagem, o diretor alemão lembrou do cinema brasileiro

É instigante descobrir que entre 1949 e 1971, a presença do cinema brasileiro em Cannes era rotina. Poucos foram os intervalos nesses 22 anos em que a grande premiação francesa ficou sem um representante do país. Era um fluxo tão intenso que acontecia de dois filmes concorrerem no mesmo ano (1954, 1964 e 1970). Dois dos pilares do nosso cinema "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, e "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, competiram juntos pouco depois de trazermos a Palma de Ouro de "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte.

O 'Cinema Novo' surgiu em um momento de "renovação" dos agrupamentos culturais; respirando o ar de outros movimentos, consolidou-se "rapidamente" como também influência para o cinema que se fez posteriormente. A chamada "Nova Hollywood" também começou a ser discutida por esses tempos, numa geração representada por nomes como Coppola, de Palma, Scorsese, Spielberg, e todos eles reconheciam o Cinema Novo. Scorsese, por exemplo, é um dos teóricos do movimento e sempre reconheceu Glauber em sua influência pessoal.

O alemão Werner Herzog também fazia parte desse grupo de jovens cineastas que, nesse período, faziam curtas-metragens, documentários televisivos, minisséries, etc, e que não só viu, como sentiu o acontecimento. Esse ano (2017), Herzog esteve presente em Cannes para receber uma homenagem na Quinzena dos Realizadores (seção paralela do festival) e em um dos pontos do seu discurso, lembrou-se com emoção desse passado que também o formou como cineasta.

"Houve um tempo em que sempre tinha Brasil aqui", disse Herzog lembrando logo em seguida de cineastas com quem filmou: Glauber Rocha e Ruy Guerra. Inclusive, um momento curioso logo em seguida a fala: para a plateia francesa, uma tradutora estava de pé ao seu lado convertendo a fala em tempo real, mas tropeçou nos nomes dos diretores; pediu que repetisse. Herzog disse novamente enquanto a plateia abria um riso rápido.

Glauber marcou presença três vezes no festival em menos de 10 anos, e isso diz muito sobre o momento em que o cinema (mundial e brasileiro) vivia, e causa uma reflexão imediata sobre o que se passou. Nada relacionado estritamente ao duvidoso glamour de Cannes, mas ao fato de sermos também influência em um processo de globalização que nos torna cada vez mais espelho de culturas externas. Ainda não é possível definir o que é o Cinema Brasileiro, muito menos o que chamamos de “cinema contemporâneo”, mas não é preciso esperar um novo grande movimento para isso. É preciso lembrar essencialmente que Cannes (entenda ‘Cannes’ como um dos símbolos de reconhecimento mundial) é só uma resposta do que já reconhecemos internamente – e não o contrário.


De 1970 para cá, embora tenha diminuído o ritmo, a frequência ainda é interessante. Das sete participações desde 2000, três são de Walter Salles (entre produções e coproduções), inclusive com anos também seguidos. Foi bom Herzog lembrar que Glauber Rocha, Ruy Guerra, que o Cinema Brasileiro faz parte dos 70 anos que Cannes comemora em 2017 – e também é bom lembrar que continua fazendo.

Equipe de "Aquarius" em protesto no 69º Festival de Cannes

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