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  • Foto do escritorArthur Gadelha

A morte de Babenco, a vida de Bárbara

Babenco - alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou (2020), de Bárbara Paz, narra de forma muito especial o fim da vida de Hector Babenco, diretor que marcou a história do Cinema Brasileiro.


Eu não esperava isso. Esperava muita coisa de um documentário sobre Babenco, mas isso, absolutamente, não estava no meu radar. Dando adeus às cabeças falantes e a rebuscada cronologia para retratar a relevância de seu protagonista, esse filme da Bárbara Paz é como uma carta de amor que ganhou forma e, de repente, pareceu boa ideia compartilhá-la com o mundo. Mesmo que seja sobre a morte do marido, essa história é muito mais sobre o que ficou vivo; sejam os filmes, as memórias ou até mesmo as ilusões.


São muitos os cruzamentos que emocionam pela irreverência como são incluídos na narrativa. A reunião de ações que se repetem em personagens de seus filmes, por exemplo, ainda ali no começo, estende Babenco para além do próprio corpo, faz da sua arte parte de si. "Não sei o que vem antes: estar vivo ou fazer cinema", são declarações que poderiam soar frouxas se não viessem de quem vem e se não fossem apresentadas dessa forma tão íntima.


Não tem ninguém aqui falando insistentemente, contando uma história ou amarrando os acontecimentos. Quem conta a vida e morte de Babenco é ele mesmo, seus filmes e, em certo grau, este se torna um projeto dividido emocionalmente com quem o dirige. Sobre a lucidez do diretor diante o fim da própria vida e a necessidade de torná-la cinema, Bárbara constrói uma ficção desse sentimento atravessado pelas obras e, principalmente, pelo amor dos dois. Definitivamente, este não é apenas um filme sobre Hector.


A cena da dança de Bárbara na chuva é emblemática por si só e ainda mais memorável por ser uma reinterpretação tirada de outro filme também sobre sua morte: "Meu Amigo Hindu" (2015). Um na ficção e o outro na investigação do sentimento. É como se este documentário fosse mesmo um oásis, um espaço onírico onde a memória e a invenção convivem juntas.


É ao fim que a lágrima vem sem pena e, curiosamente, de forma esperançosa. Assumindo a excentricidade desse filme, Paz encerra sua história na ficção como proposta de um outro mundo. Meio o que Tarantino fez em "Era Uma Vez... Em Hollywood" (2018), mas aqui com muito mais propriedade e emoção. Afinal, é quando a história, por vontade própria, não termina, que Bárbara e Babenco se tornam um só.

 

★★★★★

Direção: Bárbara Paz

País: Brasil

Ano: 2020

 

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