"A Jangada de Welles" e as desventuras de um Brasil em pedaços
Segunda colaboração entre Petrus Cariry e Firmino Holanda investiga que Brasil o diretor norte-americano Orson Welles encontrou ao vir filmar as praias do Ceará em 1942. E que Brasil ficou.
A jangada voltou só...
A maior beleza desse filme é sua história conseguir ser nova. Afinal, logo se expõe que esta não é uma história sobre a passagem de Orson Welles pelo Ceará nos anos 1940, mas sobre o Brasil que existia. Por debaixo da ficção e de todo simbolismo cinematográfico que se desenvolveu ao redor da admiração pelo Ceará do diretor mais famoso na América daqueles anos, há o que de fato é verdade. Os jangadeiros em busca de direitos de trabalho, de moradia, de sobrevivência.
Firmino e Petrus caminham por essas sensações de forma compactuada entre o formalismo documental e certa liberdade de narração, com o uso de jornais, filmes de época, mapas e até uma intervenção gramática à là Godard para expor uma interpretação do próprio filme. A engenhosa costura daquele Brasil de Getúlio Vargas ao Brasil contemporâneo parece jogar um balde de água fria diante da ficção: os jangadeiros que lutaram pelo reconhecimento no século XX, a ameaça de expulsão do Mucuripe no começo do século XXI, a comunidade do Titanzinho que até hoje é assediada por um fim. A Jangada de Welles conta que não mudamos tanto assim.
★★★★
Direção: Petrus Cariry e Firmino Holanda
País: Brasil
Ano: 2020
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