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  • Foto do escritorArthur Gadelha

O sertão fantasia na distopia de "Reza a Lenda"

CRÍTICA Fábula perdida na energia


Antônio conselheiro, Mad Max, Cangaço, Religião, Coronelismo, Sertão e Fé. É com essas palavras-chave que o paulista Homero Olivetto trás Cauã Reymond e Sophie Charlotte para um nordeste desesperado. Para que a junção faça sentido, apresenta um grupo de motoqueiros clandestinos que vivem à deriva da caatinga debaixo de sol quente numa perigosa e desafiante missão: fazer chover no sertão. O resultado? Incompreensível.


A primeira preocupação evidente é a inserção de seus personagens. Para que a sensação de urgência, calor e desespero transpire das telas, a produção se preocupa mais com o exagero caricatural de maquiagem e cabelo e esquece da fisicalidade dos atores. A personagem de Luisa Arraes, além de alheia ao contexto, nunca reage como fora de uma novela da globo; nunca se abala, nunca parece estranha com a situação caótica e desesperadora que é imposta por vezes. Assim como Cauã que lidera um elenco perdido na caricatura desses sertanejos do futuro.


A trama começa pelo problema; com a morte do líder “Pai Nosso”, os motoqueiros roubam uma santa que pertencia a Tenório, personagem de Humberto Martins. A partir de então, duas linhas evoluem atrás de nossa atenção – a fuga dos motoqueiros atrás do lugar da santa e a busca de Tenório por quem lhe roubou o bem tão precioso. Em ambas, um foco realmente interessante no poder irracional da fé – a imagem da santa é capaz de realizar milagres, como trazer água àquelas terras ferventes. Homero consegue até reutilizar esse discurso em sua conclusão ao criar, finalmente, uma sequência interessante de mudança da consciência de um de seus personagens. Todo o resto, no entanto, impressiona pela falta de coesão e perca de tom que alcança o ápice no clímax; uma sequência descerebrada e que contradiz todos os elementos de tensão e, principalmente de ação, que foram inseridos até ali.


Homero é capaz de criar seu próprio nordeste e de registrá-lo de maneira estranha: geografia bagunçada, uma montagem confusa, personagens inconsumíveis, soluções imediatas, ações inconscientes de realidade e uma trilha sonora que sempre assusta. É uma pena que tanta vontade de um cinema transgressor seja mal aproveitada. “Reza a Lenda”, por cima de seus problemas decepcionantes, é um filme que, ao menos, tem muita vontade de ser grandioso ou até mesmo de vislumbrar algo "novo". Os futuros bons filmes de ação nordestina agradecem pela iniciativa precária.

 

½

Direção: Homero Olivetto

País: Brasil (SP)

Ano: 2016

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