Depois de assistir Laís Bodanzky, minhas mães mais filhas
Um dia marcado por Como Nossos Pais (2017)
Essa semana arrastei minhas mães (minha madrinha é irmã gêmea da minha mãe) para assistir Como Nossos País, lindo filme da Laís Bodanzky que estreou por esses dias. Eu não sabia que o filme era especificamente sobre Mães, apesar do título tão autorreferente tenha alertado. Ao sair da sessão, minha mãe lembrou de ter visto uma entrevista onde Laís disse que você saía do filme ou mais mãe ou mais filha. Mamãe respondeu que saiu mais filha. Voltamos para casa relembrando alguns conflitos e desentendimentos que tivemos entre a gente e também os que ela teve com minha avó. Percebemos que todos eram tolos, daqueles que se esquece no fim do dia.
Minha madrinha não lembrou especificamente da mãe que sempre “dividiu” com a irmã, traduzindo Como Nossos Pais como uma mensagem sobre a independência da mulher, principalmente porque assim como Rosa, ela até pouco tempo atrás acordava os três filhos, levava-os ao colégio, preparava o almoço e todo o resto que se espera dessa mãe “dona de casa”, e Sandra sempre foi essa mulher que reconhece e afirma o próprio poder. Assim como minha mãe, Cristina, que se nunca teve que me acordar, sempre gerenciou além de si, os dois homens que a orbitam: eu e meu pai. Ela trabalha das 16h às 22h na claustrofobia de um shopping, mas sonha em fazer uma poupança para viajar no Ano Novo. São mulheres que ponderam as obrigações da vida aos sonhos, e isso ultrapassa a individualidade a partir do momento que ninguém as pode substituir naquilo que o mundo as responsabilizou.
Em certo momento de liberdade, a personagem Rosa pega uma bicicleta e sai pela rua para viver mais um dia comum de sua vida. Sandra voltou compartilhando que o filme a fez querer uma bicicleta, pois ela queria andar pela cidade que conhece pelo trânsito caótico. De repente, pareceu uma opção revigorante ir a faculdade de bicicleta. Sou filho único, e enxerguei nesse curto caminho para casa o quanto eu existia nessas mulheres. A diferença dessa geração, talvez a minha, é a consciência de que existe um outro mundo além do que repetimos inconscientemente; em pouco mais de 21 anos, eu também ensinei a minha mãe algumas coisas.
“Levo minha mãe comigo, de um modo que eu não sei dizer. Levo minha mãe comigo, pois deu-me seu próprio ser”, a última canção que Elza Soares proclama no indescritível A Mulher do Fim do Mundo é quase uma versão mais íntima de Como Nossos Pais. Não fala dos heróis que ainda cultuamos, ou de conquistas ideológicas repetidas, mas fala do que respinga à mente, ao corpo, do quanto somos quem nos formou. Eu sinto as minhas mães em mim, quem sabe hoje ainda mais. Preciso arranjar uma bicicleta e poupar para a viagem do fim de ano. Assim como mamãe, sinto que saí do filme muito mais filho.
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