Arthur Gadelha
David Fincher e o filme da nossa (?) década
ENSAIO Nos 60 anos de David Fincher, penso sobre "A Rede Social", um filme genial feito como quem não quer nada
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Diante das comemorações em torno dos 60 anos de David Fincher, me peguei pensando sobre o seu filme mais imprevisível: A Rede Social, lançado no final de 2010, que se aventura a dramatizar uma história até então bastante recente: a criação do Facebook, uma rede social que naquele tempo vivia seu auge. Em 2019, o site IndieWire o elegeu com um título alarmista: “O filme que define a década”. Claro, afirmações como essas soarão sempre bobas, principalmente a se pensar na infinidade de filmes que não ganham exibição nem mídia.
Mas essa afirmação, se olhada apenas no contexto da indústria dos EUA, é bem reveladora dentro e fora do cinema. Afinal, ali no fim dos anos 2010, o Facebook já era considerado “coisa do passado” na mesma década em que nasceu. O filme, como um drama bem elétrico sobre essa contradição do “instante”, das coisas que passam, é uma investigação memorável. Foi nessa década 2010-2019 que a gente viu o celular (aquele que um dia só tinha GPS, SMS e jogos 2D) construir um espaço completamente novo para uma existência virtual; vimos as redes sociais consequentemente invadirem tudo, e com elas a religião do feed, da velocidade, da coisa imediata.
O que se tornou o próprio cinema dos EUA atolando seus profissionais para entregar filmes a tempo de não caírem nas trends, na produção acelerada de sequels, prequels e remakes, ao ponto de engavetar ser mais lucrativo que preparar um lançamento? A música, a arte, o jornalismo, o humor, a política, tudo virou números potencialmente controláveis. Curiosamente, era isso que estava lá na obsessão do Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg, um mundo voltado para a experiência "sem distâncias", mas ao preço de ser sempre mediada e vigiada por interesses alheios. A história do Facebook, de brincadeira universitária a empresa e sua falência cultural em meio a toneladas de publicidade, é como um resumo da nossa história.