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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Big Brother Brasil: o que significam 1,5 bilhão de votos?

Paredão entre Prior e Manu representa um marco imersivo da televisão dentro da realidade; o espetáculo que nem George Orwell poderia prever.



Eu acho até sintomático, na realidade, que o envolvimento brasileiro com o acontecimento midiático de hoje/ontem aconteça no tempo em que estamos. Com 400 casos de Coronavírus no Ceará, quase 6.000 em todo o Brasil, que entrou na lista dos 20 países com maior número de infectados no mundo, é de se imaginar que a narrativa de justiça do Big Brother Brasil se propagasse com mais facilidade e requinte ideológico pelas incompreensivas (embora empolgantes) narrativas da internet.


Estamos de quarentena, com medo do que pode acontecer. Hoje, antes do Jornal Nacional, Bolsonaro falou mais merda ao distorcer a fala do diretor da OMS sobre o isolamento social. A Globo criou até um programa todo para falar dos tal casos de COVID-19 que só aumentam enquanto não recebemos uma resposta efetiva do Governo Federal e aguardamos medrosos até quando os Governos Estaduais – incluindo com destaque o de Camilo Santana – poderão segurar as pontas sozinhos a pressão das lideranças do capital privado. É nesse cenário que 1,5 bilhão de votos foram computados numa briga entre Prior e Manu numa das edições mais rentáveis do programa.


Big Brother nasceu na Holanda como uma referência bem-humorada ao Grande Irmão de George Orwell ao construir uma falsa realidade (uma casa de mostruário com pessoas de mostruário) pra simular essa vida vigiada que seria o futuro de 1984. Nesse nosso futuro, é tudo a mesma coisa. Quem está em Home Office, percebe tudo se atravessando: família, paixões, trabalho, o país, e o tal do Big Brother que, por uma razão bem evidente, empolga o serviço da mídia - e sinceramente, até o conceito de "alienação" parece pobre demais para traduzir isso. As coisas não são mais tão Emissor-Receptor como poderia se pensar antes da extrema virtualização de tudo, aprendemos isso em jornalismo. A Globo e seus patrocinadores, Americanas, iFood, PicPay, e tantos outros, comemoram o sucesso do espetáculo como um sintoma natural da desordem.


Eduardo Bolsonaro declarou seu apoio a Prior, assim como a maioria dos jogadores de futebol famosos e perfis recorrentes de homens da extrema-direita, enquanto do lado da Manu estavam, em peso, famosos carismáticos de feed. A briga sobre um programa que fugia da realidade tornou-se a própria realidade virtual alternativa nesse nosso mundo atravessado por tudo.


O espetáculo continua de uma maneira que nem George Orwell seria capaz de prever.

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