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Foto do escritorArthur Gadelha

16º For Rainbow: humor tragicômico nas crônicas urbanas de Pernambuco

ensaio Frente a frente, filmes que encontram no humor sua maior delicadeza

Cena de Pedro Faz Chover, de Felipe César de Almeida (Brasil, 2022)
Pedro Faz Chover, de Felipe César de Almeida

Num misto de absurdo com realidade, Pedro é assaltado duas vezes e faz uma inesperada amizade que também está se recuperando desse trauma - sem celular ou dinheiro, estão entregues à rua, na expectativa de que alguma reviravolta volte a dar sentido ao trajeto que ambos seguiam separados naquele dia. Pedro Faz Chover (2022), de Felipe César de Almeida, cujo roteiro foi justamente premiado no 16º For Rainbow, resolve isso com a graça de um acaso que acolhe o caos, destrinchando uma pequena aventura em camadas de surpresa, carinho e tensão. Para Pedro, estar sozinho não é um problema nem mesmo diante do conflito tão simples quanto grave que é se encarar com inocência. "Eu não sou gay não", solta numa conversa em que isso nem havia sido perguntado.


Em Cabiluda (2022), de aColleto e Dera Santos, o acaso é surpreendentemente imerso na fantasia. Na conceito irônico do "esquerdomacho", o filme acompanha o dia de Dimitri que segue sua rotina mesmo diante da suspeita de estar sendo perseguido. Na cena anterior que abre o filme, vemos outro cara correndo desesperadamente numa fuga que não serve de nada - quando é alcançado por algo até então invisível, o espectador desconfia cedo do motivo da cena não parecer necessariamente trágica. Adiante se confirma que caras como aquele serão perseguidos ininterruptamente pelo mesmo ser mitológico que, quando aparece, deixou a certeza de que ninguém que estava ali na sala do Cinema do Dragão o esquecerá um dia.


Cabiluda, de aColleto e Dera Santos
Cabiluda, de aColleto e Dera Santos

Frente a frente, esses filmes possuem uma rima curiosa que parte do próprio humor - em ambos, existem coisas graves acontecendo e que poderiam desencadear uma série de conflitos urbanos numa cidade soturna, misteriosa e ocupada apenas por quem entende suas regras, caminhos e fugas. Mas na tela, essas histórias procuram outra coisa: a conexão com as descobertas à partir da graça, sem que essa escolha os façam sobreviver na superfície. Pelo contrário, esses filmes nos conduzem a emoções delicadas que estão para além do que vemos ser anunciado - o futuro de Pedro após essa noite imensa, bem como a imaginação de quem será o próximo alvo do ser justiceiro, são perguntas que certamente ficaram na plateia.


Para que a conexão aconteça, essas tramas são totalmente dependentes de seu elenco. Personagens, diálogos, olhares e gestos constroem a essência em torno da sensação de realidade, mesmo que nos filmes isso seja tão distinto entre eles. Ambos imersos na famosa "conversa de bar", elemento compreensivelmente recorrente no cinema brasileiro, resgatam de seus atores o momento da virada - é quando os personagens "se descobrem" junto da plateia que, de certo modo, torce para o mesmo fim que as histórias resolvem dar para eles. A sensação, comicamente, é que não existe outro final possível.

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