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  • Foto do escritorArthur Gadelha

Reportagem ‘Visita, Presidente’ põe a prisão de Lula em replay

CRÍTICA Ao olhar para trás no que já se olhou, produção da Globonews só tinha a opção de ser uma longa reportagem, distante do cinema.


Enquanto assistíamos a votação pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016 na Câmara dos Deputados, estava claro que dali em diante vários filmes seriam feitos porque era uma ferida bastante grosseira acontecendo em pleno regime democrático e que tinha seu alto grau de ineditismo. Nos anos seguintes isso logo se tornaria real na tentativa de propor diferentes digestões sobre esse acontecimento em filmes como O Processo (2018), Excelentíssimos (2018) e Alvorada (2021), quase todos dirigidos por mulheres.


Quando Lula foi preso em 2018, a sensação foi a mesma: quantos filmes começavam a ser produzidos naquele mesmo instante? Ao fim de 2022, com Lula se preparando para assumir pela terceira vez a presidência da República, parece que chegou o momento. Visita, Presidente (2022), também dirigido por mulheres - as jornalistas Maira Donnici e Julia Duialibi - chega meio asfixiado por essas expectativas. Isso porque, com produção central da Globonews, o conteúdo se afasta do cinema para se aproximar de uma longa reportagem.


Julia, que na época ainda não estava na equipe da Globo, faz um filme que é tanto sobre a prisão de Lula quanto sobre sua própria abordagem; ainda no começo ela revela que havia coberto a posse em 2003, há 10 anos, primeira vez em que aquela figura tão histórica subiu a rampa do Palácio do Planalto. Há todo um outro filme nessa dimensão que decide não ser explorado por conta da objetividade que é a missão do projeto: ouvir testemunhas próximas ao presidente que acompanharam de perto todas as tensões, suspenses e alívios de sua prisão em 2018. Ao longo de quase 90 minutos, porém, ouvimos pouco - com falas aguardadas de personagens como Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann e Janja Lula da Silva, além de demais amigos pessoais de Lula, o filme se contenta com recordações breves. Em meio a esses diálogos, porém, claro que saltam situações inesperadas, como reações aos momentos difíceis que Lula passou em Curitiba enquanto via seu projeto político e sua própria família desabarem diante da nação.


A cada novo minuto do filme também fica a sensação de deja vu de mesmos momentos que estão relatados em Lula: Volume 1 (2021), biografia fascinante escrita por Fernando Morais que surpreendentemente dedica metade do seu espaço à narrativa completa da prisão - da notícia que o mandato de Sérgio Moro havia sido liberado ao momento em que ele deixa o cárcere preenchido de revanche. Diferente dos ricos detalhes que estão no livro, no documentário é tudo muito reto, uma decisão provavelmente tomada para não deixar que o projeto perdesse a linha jornalística.


No fim das contas, Visita, Presidente é bastante funcional quando visto num caráter institucional, quase interno, fazendo do filme mais um autosserviço para organizar o próprio catálogo da empresa sobre imagens e depoimentos de um assunto que ainda vai ser revisitado tanto. Propositalmente, há pouco sentimento, contexto, intromissão ou visões para além do que todos já assistimos na própria emissora. É o que se espera de um documentário televisivo para ser exibido em canal fechado. Esse sendo, abertamente, o propósito do projeto, não podemos dizer que ele tenha sido feito para enganar ninguém.

 
 


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