‘O Acidente’ busca simpatia em conflito urbano
32º Cine Ceará Na competição de longas, um filme que se contenta com a imobilidade
São muitos os rumos que parecem possíveis na engrenagem de O Acidente, primeiro longa-metragem de Bruno Carboni, diretor que saiu premiado do 26º Cine Ceará com seu curta O Teto Sobre Nós. Mas à medida em que a trama avança dando voltas no mesmo novelo, uma sensação de dormência vai tomando conta de uma história que (quase) nunca dá vazão aos pensamentos que estão tão aprisionados em seus personagens.
Na trama, Joana é atropelada no trânsito e, mesmo em estado de choque, prefere não contar a ninguém e esquecer o acontecimento. Mas o filho da própria motorista filmou o acidente e o vídeo foi parar na internet, viralizando até chegar no celular de sua esposa. Agora sem ter como deixar essa história quieta, Joana se aproxima da família do garoto e vai invadindo aquela vida desequilibrada, tomando para si uma decisão familiar completamente alheia à sua realidade. Ela, a atropelada não indenizada, de repente precisa "decidir" com qual dos pais separados o filho deve ficar.
Olhando assim para a cratera que se abriu entre causa e consequência, pode até parecer que estamos falando de uma obra inspirada nas tramas escalares do Asghar Farhadi, que salta de uma pequena desarmonia para encontrar a explosão. Bem distante desse pulso, porém, O Acidente sabe que tem em mãos uma história de poucas vias, e escolhe construí-las com uma frieza religiosa.
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É difícil estabelecer qualquer conexão com a protagonista que ultrapasse a observação de seu mal-estar, de sua rigidez, e esse processo demanda tempo. Claro, a clausura emocional de Joana é um elemento bastante consciente dentro do roteiro para vincular sua sinergia com o garoto e para propor uma leitura mais complexa entre maternidade e carência. Não à toa o filme parece começar de fato só quando lhe resta meia hora, no momento em que finalmente reúne suas peças mais interessantes: Maicon e Joana sobre a mesa, tentam descobrir se falam a mesma língua. Ao passo em que se esquentam, o mundo ao redor é que esfria.
Carol Martins segura bem sua personagem na sensação de que vai explodir a qualquer momento, mas o destaque é Gabriela Greco, interpretando uma mulher de energia imperativa que sempre transborda aos personagens ao redor, interferindo diretamente na interpretação de quem está na cena. Dramaticamente, sua personagem vai ganhando força também perto do fim - nada mais justo que seja ela a ter a palavra final dessa história.
O Acidente é um filme monótono, a exemplo da própria trilha sonora que fica se repetindo, mas o destino do seu conflito vai ganhando outro ritmo, aos poucos mais incisivo, despertando sensações que caminharam adormecidas por muito tempo.
Direção: Bruno Carboni
Roteiro: Marcela Ilha Bordin, Bruno Carboni
Produção: Paola Wink, Jessica Luz
Direção de Produção: Mariana Mêmis Müller
Direção de fotografia: Glauco Firpo
Montagem: Germano de Oliveira, Bruno Carboni
Som Direto: Marcos Lopes
Desenho de som: Tiago Bello, Marcos Lopes
Música: Maria Beraldo
Direção de arte: Richard Tavares
Preparação de elenco: René Guerra
Produção de Elenco: Simone Butelli
Colorista: Wilson Esguerra, Daniel Dode
País: Brasil
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