Robert Pattinson em comédia melancólica no espaço
O novo filme do sul-coreano Bong Joon-ho tem no protagonista americano seu maior trunfo

Cinco anos após entrar para história sendo o primeiro filme não falado em inglês a ganhar as principais categorias do Oscar com Parasita (2019), o novo filme de Bong Joon-ho, Mickey 17 gera grande expectativa no mundo cinéfilo. Contudo, a nova obra do diretor conclui uma certa “trilogia” de trabalhos em Hollywood do cineasta. Isso porque é inevitável não fazer um paralelo temático e estético com Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017).
Os três filmes são ficções científicas que atrelam temas sociológicos como luta de classes em Expresso do Amanhã e a exploração científica e econômica das multinacionais em Okja. De certa forma, Mickey 17 é a síntese dessas discussões. Nessa estória, acompanhamos como um político fracassado consegue orquestrar uma viagem espacial com o propósito de colonizar um novo planeta com seus fiéis seguidores fanáticos. Mark Ruffalo é quem dá corpo ao ditador Kenneth Marshall, aqui ele está engraçadissimo, ressalto o detalhe em seus trejeitos que por hora lembram as caras e bocas de Donald Trump, seu personagem soa como um lúcido comentário sobre os caminhos da nova política americana.
Nesse contexto de mundo caótico em um nível cômico-trágico, conhecemos Mickey (Robert Pattinson) e Timo (Steven Yeun), dois sujeitos que na tentativa de ganhar a vida arrumam uma dívida que pode custar a vida deles. É então que em uma tentativa de fuga desesperada, os dois aceitam participar do clã de Kenneth Marshall. Mickey acaba no pior cenário possível, pois aceita fazer parte de um experimento científico, ele será o membro da tripulação “descartável”, pois assim que é feita uma cópia de seu corpo e memória, toda e qualquer missão ou experimento suicida se torna sua obrigação.
É nesse ir e vir de suas cópias que a atuação de Robert Pattinson sobra, ele entrega uma personalidade e trejeito próprio para cada versão sua, mesmo mantendo uma integridade interessante de comportamentos entre elas. A veia cômica do ator é estimulada pela direção, o próprio ator afirmou que durante as revisões de roteiro ajudou a adicionar gírias e humor que o sul-coreano nem havia pensado. A ideia era trazer um forte humor físico ao filme, lembrando Jim Carrey.
A primeira metade do filme explora bastante essa trama de Mickey como um ratinho de laboratório passando por diversos experimentos, mas logo em seguida a trama muda com a convivência entre dois Mickey. Daí, por diante o filme parece ter perdido um pouco a direção, tentando atirar para todos lados em busca de chegar a um final grandioso. Afinal, é um filme da Warner Bros.
O elemento que remete a Okja e até mesmo O hospedeiro (2006), trata-se das criaturas do planeta, nomeadas como creepers pelo ditador Marshall, que lembram os insetos gigantes de Nausicaä do Vale do Vento ou alguma versão genérica de um animal do Studio Ghibli. Toda a discussão que eles trazem para o filme é básica, já vista em Avatar, Pocahontas e por aí vai.
Mesmo que a segunda metade do filme seja protocolar, a atuação de Pattinson e a experiência cinematográfica proposta por Bong já valem o ingresso. Mas já aviso, não esperem um novo Parasita.
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