O Farol: guerra entre Tarkovsky e Malick no sul da Caucásia
Dirigido pela saudosa Mariya Saakyan, "O Farol" (2006) é um exercício contraditório de contemplação e desespero

- Sonhei com uma menina que era uma árvore... Foi assustador. Então eu percebi que não podia me mexer porque dentro de mim há o mundo todo. Terra, sol, água, bolhas de ar...
- Você tem sonhos doidos, tia Kasiana
Apesar de parecer um perfeito cruzamento entre os cinemas sensoriais de Tarkovsky e Malick, ainda na longa abertura de oito minutos, Maria Saakyan apresenta uma emoção atraentemente difusa sobre o contexto aflito de uma cidade rural atravessada pela guerra. A contradição sonora e visual de dança e energia com a solidão da chegada do trem é de uma beleza muito especial.
Lena viajou até ali para resgatar os avós de um ambiente de guerra, mas logo descobre que fugir parece uma tarefa impossível. A partir de então, Saakyan põe sua história a serviço de um longo pesadelo sensorial não sobre a guerra em si, mas sobre o que existe ao seu redor: a tensão, o medo, o caos, o suspense. A estética fria e instável da câmera de Maxim Drozdov investiga essa anestesia com uma proximidade tão tímida que, do lado de cá, parece que nossa presença atrapalha. É uma sensação assustadora.
★★★★★
Título original: Mayak
Direção: Maria Saakyan
País: Rússia, Armênia
Ano: 2006
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