44ª Mostra de SP: as expectativas de uma edição online
Com quase 200 filmes, a tradicional Mostra Internacional de Cinema acontece pela primeira vez de forma virtual
Na manhã desse sábado, 10, a organização da Mostra Internacional de São Paulo anunciou a extensa seleção de 198 filmes de 71 países para sua 44ª edição. Apesar de já ter conhecido o evento há quatro anos quando fui representando Trem da Alegria, de Francis Vale, não tive tempo de assistir mais do que cinco filmes. Neste ano, curiosamente, será a primeira vez que poderei participar por dois motivos evidentes: a distância e o valor dos ingressos (R$6). Com o anúncio da seleção, o meio cinéfilo já começa a se debruçar sobre a pluralidade de obras e, aqui, aproveito para fazer um breve apanhado das minhas expectativas iniciais.
Casa de Antiguidades de João Paulo Miranda
Selecionados para o interrompido Festival de Cannes e um dos potenciais títulos a competir uma vaga no Oscar 2021, Casa de Antiguidades é o primeiro longa-metragem de João Paulo Miranda, paulista que em 2016 rodou a imprensa brasileira ao ser premiado em Cannes pelo curta A Garota que Dançou com o Diabo. Protagonizado pelo mítico Antonio Pitanga, Casa de Antiguidades retrata Cristovam, um homem negro do norte rural que se muda para uma antiga colônia austríaca, no sul do país, para trabalhar em uma fábrica de leite. Diante de conservadores xenófobos, ele se sente isolado e alienado do mundo branco. Cristovam descobre uma casa abandonada, cheia de objetos e recordações que o lembram de suas origens. Como se esta casa de memória estivesse viva, mais objetos começam a aparecer. Lentamente, Cristovam passa por uma metamorfose.
Mães de Verdade de Naomi Kawase
Naomi Kawase é autora de um cinema pautado pela sensibilidade nata a conflitos existenciais já que de seus curtas independentes aos documentários e ficções, pulsa uma energia de contemplação. Nesta Mostra, a cineasta japonesa traz Mães de Verdade, exibido nos festivais de Toronto e San Sebastian e que também faz parte do selo Cannes 2020. No filme, Satoko e o marido decidem adotar uma criança e, alguns anos depois, a família é abalada por uma garota desconhecida e ameaçadora, Hikari, que finge ser a mãe biológica.
Jafar Panahi e Jia Zhangke
A sessão aparentemente nomeada de "Master in Shot" reunirá curtas-metragens de diretores conceituados. Em Escondida (Hidden), o iraniano Jafar Panahi segue sua filha e seu amigo a uma remota vila curda para visitar uma cantora sobrenaturalmente talentosa, que é proibida de se apresentar publicamente. Já A Visita (Visit), gravado por Jia Zhangke num smartphone, retrata uma reunião entre dois parceiros de trabalho que acaba revelando os rígidos protocolos de cuidados impostos pela epidemia do novo coronavírus. Na programação, Jia, que é o autor do belíssimo pôster dessa edição da Mostra, também apresenta seu longa Nadando até o Mar Se Tornar Azul.
Tentehar: Arquitetura do Sensível de Paloma Rocha e Luís Abramo
Produtora e diretora, Paloma Rocha traz a Mostra seu longa codirigido com Luís Abramo que teve estreia mundial este ano no festival suiço Visions du Réel. Tentehar: Arquitetura do Sensível relaciona os rituais religiosos, os transes artísticos e místicos em um Brasil onde a pobreza e a fome são invisíveis para grande parte da sociedade. Antes da Mostra, Paloma e Luís têm parada marcada no Olhar de Cinema, com o filme de encerramento Antena da Raça que relaciona a filmografia de seu pai, Glauber Rocha, com o programa Abertura apresentado por ele na TV Tupi no final dos anos 1970.
Kubrick por Kubrick de Gregory Monro
Exibido no Festival de Tribeca, o documentário traça um retrato particular do famoso Stanley Kubrick. O filme de Gregory Monto apresenta o cineasta a partir arquivos cedidos pela família e uma série de entrevistas feitas pelo crítico de cinema Michel Ciment durante 30 anos. Parece um bastidor imperdível.
Jean-Claude Bernadet
Mestre da crítica de cinema brasileira, Jean-Claude Bernadet aparece na Mostra codirigindo o longa #EAgoraQue com Rubens Rewald. No drama político, a sinopse pergunta: "Como agir politicamente hoje? É possível mudar as coisas, as pessoas, a sociedade? E agora, o que fazer? Um intelectual e suas contradições".
Gênero, Pan de Lav Diaz
Conhecido pelos longuíssimos filmes, o filipino Lav Diaz traz a Mostra um filme de duração até modesta. Com 157 minutos, Gênero, Pan acompanha três trabalhadores que, após deixarem seus empregos em uma mina de ouro, viajam para sua aldeia natal a pé pela selva hipnotizante. À medida em que o tempo avança e suas conversas se intensificam, histórias enterradas emergem e uma sensação estranha passa a tomar conta deles...
E lá vamos nós!
Como é a primeira vez que esse formato acontece, muitas informações precisam ser processadas e essa publicação trata-se apenas de um primeiro olhar diante da vasta seleção. Os filmes serão exibidos na plataforma exclusiva Mostra Play e os ingressos só podem ser adquiridos a partir do dia 22 de outubro. Após a aquisição dos ingressos, o espectador cria sua biblioteca e terá três dias para assistir aos títulos escolhidos e 24 horas a partir do acesso a cada um... Tudo novo, mas lá vamos nós!
Comentarios